Tragedia em Realengo - Conheça em detalhes quem era e como vivia Wellington Menezes de Oliveira

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De segunda a sexta-feira, centenas de crianças passam em frente à malconservada casa de dois andares da Rua José Fernandes, em Sepetiba. Não podia ser diferente. No quarteirão do outro lado da rua há três escolas, com estudantes de séries e faixas etárias diversas. Dentro da casa, escondido pelo mato que aos poucos encobre o terreno, morava há oito meses o monstro, animal, psicopata, terrorista, assassino — os adjetivos para qualificá-lo ontem se multiplicaram — que invadiu a escola de Realengo e matou doze estudantes. Eram crianças e jovens como os que ele, Wellington Menezes de Oliveira, via passar na sua porta todos os dias.
Wellington, de 23 anos, sempre morou em Realengo. Ontem, na Rua Jequitinhonha, vizinhos e amigos de infância descreviam o universo à parte em que o quinto filho da família Oliveira vivia.
Acostumado a desviar o olhar e abaixar a cabeça ao passar pelos vizinhos, Wellington nunca participava das brincadeiras de rua. Só se aproximava do campinho de areia cercado por grades enferrujadas, em frente à casa, para assistir. Nunca teve muitos amigos, nem foi visto com namorada.
Teve um amigo, quando ainda era muito pequeno. Aos 5 anos, costumava sair de casa para soltar pipa com um vizinho, que logo depois se mudou. Ao longo da infância, só saía de casa para ir à escola. A mesma Tasso da Silveira (onde estudou entre 1999 e 2000) que revisitou ontem.
Na escola, ex-colegas lembram que se recusava a participar de atividades em grupo e pedia aos professores para entregar o trabalho sozinho.
As recusas, aliás, eram habituais na vida de Wellington. Adotado, cresceu ouvindo detalhes sobre eventuais problemas psiquiátricos da mãe biológica. Segundo vizinhos, ela dizia que Wellington havia sido gerado dentro de um manicômio. Wellington costumava ser alvo de chacotas.
— Na escola, ele dizia que era um homem-bomba e que um dia explodiria o colégio — lembrou uma antiga colega.
A mãe biológica era da mesma família dos pais adotivos, mas entregava os filhos para outros criarem.
— Sumia e, quando aparecia, estava maltrapilha. De vez em quando, aparecia grávida. Nunca criou os filhos que teve — contou uma vizinha.
Wellington tinha cinco irmãos de criação, três mulheres e dois homens, todos bem mais velhos. O primogênito já passou dos 50. A caçula tem mais de 40. Também convivia com os primos, que moravam no quintal onde ele foi criado. Nunca foi de conversar. Nem em casa.
— Ele não torcia para nenhum time de futebol e só falava o básico no trabalho. Eu pedia equipamento e ele entregava — lembra o office boy Fabio dos Santos.
Quando chegava do trabalho, ia para o computador, onde disputava jogos de tiro, a única coisa por que se interessava.
Ontem, usou dois revólveres: um de calibre 38 e outro de calibre 32. A polícia está tentando descobrir como Wellington conseguiu as armas. O 38 está com a numeração raspada, o que dificulta o rastreamento. Os investigadores localizaram a origem da outra arma, de calibre 32. O dono já morreu, e seu filho explicou que a arma havia sido roubada há 17 anos.
Na juventude, quando começou a trabalhar, só mudava o itinerário diário para ir à igreja evangélica Testemunha de Jeová, com os pais adotivos. Com calça social, camisa para dentro e uma maleta, onde carregava livros evangélicos. Quando os pais paravam para conversar com alguém, Wellington seguia caminhando, retardando os passos, para que os pais o alcançassem. Apesar da apatia, nunca faltou ou chegou atrasado ao trabalho. Nunca teve desentendimentos. Nem levantou a voz para quem quer que fosse. A mãe costumava dizer aos vizinhos que ele era inteligente, sem questão de disfarçar o orgulho.
Orgulho que as mães das crianças mortas ontem por ele não poderão sentir.

Fracasso na vida e no trabalho
A primeira grande perda da vida de Wellington Menezes de Oliveira foi a morte do pai, há três anos, em decorrência de problemas cardíacos. Mas foi a morte da mãe, no ano passado, que fez com que ele se trancafiasse no universo que cabia dentro da tela do computador do quarto. O silêncio passou a ser seu maior companheiro. Quieto, mergulhou ainda mais na solidão.
— Depois que a mãe dele morreu, parecia que não tinha mais ninguém na casa. Ele ficou ainda mais silencioso. Não abria a boca nem para dar bom dia — lembra a vizinha Elma Pedroso.
Até os laços com o trabalho foram cortados. Um dos primeiros empregos de Wellington foi no lava-jato da Rua Jequitinhonha. Lá, recebeu o apelido de Orelhinha, devido às orelhas pontiagudas. Ao sair, Wellington foi trabalhar bem longe de casa. Entre fevereiro de 2008 e agosto de 2010, deu expediente na fábrica de Jacarepaguá da Rica Alimentos. O garoto cuja inteligência dava orgulho à mãe adotiva logo foi progredindo.
Começou como auxiliar de serviços gerais e foi promovido a auxiliar de almoxarifado, para ganhar cerca de R$ 800. Um ex-colega de trabalho lembra que a empresa logo percebeu como o rapaz era:
— Nas dinâmicas da empresa, percebemos que Wellington era introvertido, não interagia com outras pessoas, mas sempre achavam que era pura timidez.
Na nova função, porém, a timidez o prejudicou. No almoxarifado, quem exercesse a função devia conversar com os colegas, de setor em setor, para saber a necessidade de repor peças. Diante da baixa produtividade, a empresa já havia decidido que o demitiria. Mas Wellington antecipou-se e, em agosto do ano passado, pediu demissão.
A decisão pelo isolamento total veio no ano passado. Com a morte da mãe, morou por algum tempo com a irmã Rosilane, de 49 anos. Há oito meses, Wellington se mudou para a casa que pertencia ao pai, em Sepetiba. O monstro tinha encontrado seu último covil.

O melhor amigo era um gato preto
Na casa da irmã, Wellington só dava carinho a um gato preto, que sumiu depois da morte da mãe. Havia criado um abismo na relação com outros seres humanos. Na última vez em que foi visto pela irmã, no fim do ano passado, estava diferente. Cultivava uma longa barba e falava sobre islamismo.
A visita foi próxima às eleições presidenciais. Rosilane o convidou para almoçar, mas Wellington não aceitou.
— Falava muita besteira. Ele só ficava na internet, não tinha amigos, era muito estranho e reservado. Só falava de negócio de muçulmano... Essas coisas assim — afirmou a irmã em entrevista para a rádio "Bandnews FM".
Um irmão, que mora em Brasília, disse à TV Globo que Wellington teria começado a fazer tratamento psicológico, mas teria abandonado as consultas.
Em Sepetiba, o contato com vizinhos não era menos escasso. Os que lembram de Wellington descrevem o mesmo ar asseado e o visual conservador, de quem procurava não chamar a atenção. Durante alguns meses, cultivou uma longa barba, que já havia raspado.
Costumava frequentar o aviário ao lado de casa, para comprar ovos e refrigerantes de marca barata. Pouco falava com os vendedores, mas, quando perguntado sobre o porquê da barba, respondia: "Eu sou o Bin Laden".
Ontem, em meio à multidão em frente à casa de Wellington, chamava a atenção a quantidade de crianças. Um garoto de 7 anos desabafou.
— Escapei, né, tia? Ele poderia ter subido o muro da escola e ter matado a gente.

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