Tragedia em Realengo: aluna conta que as crianças pediam socorro, pediam para não morrer


Jady Ramos de Araújo, de 12 anos, está assustada e diz ainda ouvir o barulho dos tiros ecoando na cabeça. A menina, que cursa o 6 ano do ensino fundamental, chegou em casa com o tênis ensopado de sangue: o calçado ficou sujo quando passou pelos corredores da escola, onde 12 alunos morreram e outros 12 ficaram feridos. A mãe, Lúcia Ramos, queria que Jady descansasse em casa após o trauma sofrido pela manhã. Mas a menina insistiu: queria voltar ao colégio para tentar encontrar o sargento Márcio Alves e agradecê-lo por ter ido impedido Wellington. Não o encontrou, mas escreveu um bilhete para o PM:
— Vocês mostram para ele, por favor? — pediu Jady à repórter do EXTRA.
As quatro linhas para o sargento foram escritas com a caneta rosa, o único item que sobrou do material escolar da menina, que deixou a mochila para trás na fuga da escola. A caneta foi também a única companhia de Jady enquanto estava escondida na sala de aula. Para tentar se acalmar, ela desenhou uma casa na palma da mão esquerda.
— Por que uma casa? Porque meu maior sonho é ter uma casa. E eu queria pensar em coisas boas — disse Jady.
A menina contou ainda que, no momento em que os tiros foram ouvidos, sua professora, primeiro, pensou serem balões sendo estourados. Ao perceber que eram tiros, ela arrastou mesas e armários até a porta, para impedir que o atirador entrasse na sala. Mas os gritos de Wellington atravessaram a barreira improvisada:
— Ele gritava muito: "Vou matar vocês! Vira para a parede que eu vou te matar!". E as outras crianças pediam socorro, pediam para não morrer: "Não me mata! Não me mata!". Dava para ouvir quando ele carregava a arma novamente, para matar mais.
Imagens chocantes
Depois de o atirador ser morto, Jady deixou as salas com os colegas. O irmão, de 17 anos, foi buscá-la. Baixinha, de corpo franzino, ela disse ter tido medo de ser pisoteada. Viu colegas desmaiando, alunos ensanguentados. Tentava olhar só para frente, para evitar mais imagens chocantes.
— Mas não dava. Era sangue por todos os lados. Gente caída, gente morta.

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